terça-feira, 30 de abril de 2013

A PÁSCOA: ORIGEM E SIGNIFICADO

por Carlos Augusto Vailatti

A verdadeira páscoa, em sua origem, não tem nada a ver com coelhos ou ovos de chocolate, por mais deliciosos que sejam estes últimos. Estes elementos foram introduzidos somente posteriormente na páscoa cristã que, aos poucos, acabou sendo grandemente influenciada por pensamentos e símbolos do paganismo.

No que diz respeito ao coelho, este animal sempre foi visto como símbolo de fertilidade, nascimento e nova vida desde o Antigo Egito. Então, com o passar do tempo, um evento diretamente relacionado à páscoa cristã, isto é, a ressurreição de Jesus, foi associado com o símbolo do coelho, devido à sua conhecida capacidade de gerar novas crias. Esta "nova vida" gerada pelos coelhos acabou se identificando com a "vida nova" obtida por Cristo em Sua ressurreição. 

Quanto ao ovo, este também era visto como símbolo de nascimento e ressurreição. Aliás, conta-nos a lenda que Simão, o cireneu, quem ajudou Jesus a carregar a Sua cruz até o Calvário (Mateus 27:32; Marcos 15:21; Lucas 23:26), era vendedor de ovos. E estes ovos, ainda segundo a lenda, teriam se tornado milagrosamente coloridos após a crucificação de Jesus. Essa lenda, acredita-se, teria dado ensejo ao surgimento dos "ovos pintados" e, posteriormente, aos "ovos de chocolate", sendo estes últimos imprescindíveis para o sucesso de vendas do comércio no mundo ocidental.

Apesar do significado lendário e capitalista da páscoa estar bem arraigado em nossa sociedade, urge relembrar, de igual modo, o significado verdadeiro da páscoa. No Antigo Testamento, a palavra "páscoa" vem do hebraico "pêssach" e significa "passar sobre" ou "passar por cima". O termo vem da raiz hebraica p(pê)-s(samekh)-ch(chêt), cujo sentido básico é "pular" ou "andar de forma irregular". A páscoa é uma das três festas de peregrinação judaica (as outras duas festas são "shavuot", literalmente "semanas" ou "pentecostes"; e "sukot", "tabernáculos"), festa essa que possui caráter eminentemente libertador, pois comemora a libertação dos escravos israelitas do regime escravocrata egípcio, retratado no livro de Êxodo. O nome da festa, "pêssach", teve origem na última das chamadas "Dez Pragas", a da "Morte dos Primogênitos", quando todos os primogênitos dos egípcios foram mortos pelo "Destruidor", em hebraico, "mashchit" (Êxodo 12:23), ao mesmo tempo em que Deus "passou sobre" ou "pulou" as casas dos israelitas, poupando-lhes a vida de seus primogênitos (Êxodo 12:27), pois haviam pintado os umbrais de suas portas com o sangue do cordeiro, animal este considerado sagrado no Egito.

Já no Novo Testamento, a páscoa e o seu significado foram redimensionados e reinterpretados à luz da ótica e fé cristãs. Como Jesus morreu, segundo os Evangelhos, no mesmo dia em que os judeus sacrificavam um cordeiro a fim de comemorar a libertação da escravidão egípcia, ou seja, a "páscoa judaica" (cf. Mateus 26:2; João 19:14-18 etc), logo, Jesus acabou sendo interpretado como "o cordeiro pascal cristão". Paulo, aliás, disse: "porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós" (1 Coríntios 5:7).

Desse modo, a páscoa cristã tanto significa "a libertação dos pecados" para todo aquele que crê em Jesus como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (João 1:29, 35-36), como também demonstra o imensurável amor de Deus pela humanidade, ao entregar o Seu Filho, Jesus, para morrer em seu lugar (João 3:16).

Em uma época tão secularizada como a nossa, na qual os valores cristãos são muitas vezes ignorados, esquecidos, confundidos, deturpados, mal interpretados e até mesmo atacados, urge trazer à memória o real significado da páscoa judaico-cristã. A páscoa nos fala sobre um Deus extremamente amoroso que, por um lado, não se portou com indiferença diante do sofrimento do Seu povo no Egito, de modo que o libertou; e, por outro lado, não agiu de forma insensível diante de uma humanidade pecadora, provendo-lhe "o Cordeiro Pascal", Jesus, como Libertador de sua escravidão ao pecado.

Embora, em nossos dias, seja quase impossível efetuar a "descoelhização" e a "deschocolatização" do imaginário popular quanto à "páscoa", todavia, sempre é possível resgatar o verdadeiro sentido da Páscoa cristã, o qual foi muito bem resumido por Pedro: "Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo, foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado, nestes últimos tempos, por amor de vós; e por ele credes em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus". (1 Pedro 1:18-21).

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