terça-feira, 30 de abril de 2013

MATAR EM NOME DE DEUS: UMA FORMA DE "ADORAR" A DEUS?!

por Carlos Augusto Vailatti

"(...) vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus". (João 16:2). Nesse texto, Jesus estava preparando os seus discípulos para os momentos de perseguições e até mesmo de morte que muitos deles enfrentariam após a Sua partida deste mundo em direção ao Pai. Mas, o que realmente choca nesse texto, é o fato de Jesus dizer que "os futuros assassinos dos discípulos pensavam erroneamente que, ao matá-los, estariam prestando um 'serviço' (do grego, latreía, 'adoração') a Deus!". Como pode isso? Assassinar "em nome de Deus" é uma forma de adorar/servir a Deus?! E desde quando Deus nos concedeu uma procuração com poderes para matar em Seu nome? Que modo mais contraditório de adorar a Deus! Que lógica mais funesta e absurda!

Porém, essa "forma estranha de adoração" tem estado mais presente em nossa história do que poderíamos imaginar. Durante os séculos XI-XIII, o fanatismo cristão promoveu as cruzadas, incursões militares que provocaram a morte de milhares de pessoas, entre muçulmanos, judeus e até mesmo cristãos. Por volta de 1500, no México, os astecas sacrificaram milhares de pessoas aos deuses, pois acreditavam que o sol desapareceria se corações não fossem arrancados dos peitos das vítimas e não fossem oferecidos às divindades. Nos Séculos XIII, XIV, XVI e até quase meados do Século XIX, a Inquisição identificou, puniu e até mesmo assassinou milhares de pessoas sob o pretexto de que eram hereges infratores que não aderiram à sua fé "ortodoxa". Na década de 1980, a teocracia xiita no Irã matou cerca de 200 fiéis da Religião Baha'í por não se converterem ao Islamismo. Ao longo da segunda metade do Século XX, cerca de 3 mil pessoas morreram na Irlanda do Norte como resultado de aproximadamente vinte anos de conflitos religiosos entre católicos e protestantes naquele país. Em nossos dias, vários atos de violência, assim como, assassinatos cometidos contra cristãos, foram executados por muçulmanos extremistas em países tais como Nigéria, Sudão e Indonésia. E estes são apenas alguns exemplos.

Ora, mas quem é o culpado por tais atrocidades? Deus? De forma alguma! Como já disse, Deus não assinou nenhuma procuração autorizando-nos a fazer barbaridades em Seu nome. Então, as religiões são as responsáveis? Claro que não! As religiões em si mesmas são boas e sempre visam, de algum modo, o bem-estar do ser humano. O grande problema são os fundamentalistas, extremistas e fanáticos onipresentes em muitas religiões, os quais, ao se misturarem com as pessoas de bem, acabam se tornando "invisíveis". Tais pessoas se escudam atrás dos legítimos fiéis e, ao agirem assim, praticam atrocidades em nome Deus, ao mesmo tempo em que mancham a reputação daqueles que buscam servi-lo de forma digna e correta dentro de seu sistema de crenças.

"Adorar a Deus" não tem nada a ver com a imposição humana da nossa fé "goela abaixo" na vida das pessoas e, muito menos ainda, tem relação com infligir perseguições e matanças contra aqueles que simplesmente resolveram pensar de forma diferente de nós. "Adorar a Deus" tem a ver com amar aqueles a quem o próprio Deus ama, incondicionalmente. Afinal de contas, antes de Jesus descrever essa "forma estranha de adoração" em João 16:2, ele já havia ensinado a forma correta de adorar a Deus alguns versículos antes, quando disse aos seus discípulos: "O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei" (João 15:12).

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